Protocolo de Cetoacidose Diabética
Critérios diagnósticos:
- Glicemia > 200 mg/dL;
- Acidose metabólica: pH arterial < 7,3 ou HCO3 < 15 mEq/L;
- Cetose: cetonúria ≥ 2+ ou cetonemia ≥ 3 mmol/L
Classificação de gravidade:
- Leve: pH entre 7,20 e 7,30;
- Moderada: pH entre 7,10 e 7,20;
- Grave: pH < 7,10.
Sinais e sintomas da CAD:
- Náuseas e vômitos;
- Dor abdominal difusa;
- Poliúria e polidipsia;
- Perda de peso;
- Desidratação;
- Fraqueza;
- Fadiga;
- Taquicardia;
- Taquipneia, respiração de Kussmal;
- Letargia e coma.
Avaliação inicial
Iniciar fluídos EV: 1 L de SF 0,9% ou 1 L de RL ou ≅15-20 mL/kg (1050 a 1400 mL) na primeira hora
Hipovolemia leve à moderada?
Administrar solução isotônica de
NaCl 0,9% 250-500 mL/h
Administrar solução salina de
NaCl 0,45% 250-500 mL/h
pH < 6,9?
Administrar solução isotônica de
NaCl 0,9% à 1 L/h
Se choque cardiogênico, considerar vasopressores
Como fazer solução salina de NaCl 0,45%:
diluir 20 mL de NaCl 20% em 980 mL de água destilada
ou NaCl 0,9% 250 mL + 250 mL de AD
Não administrar bicarbonato
Administrar bicarbonato em 2 horas, se necessário repetir até pH ≥ 6,9
100 mL de bicarbonato de sódio 8,4% + 400 mL de água destilada ou SG 5%.
Infundir à 250 mL/h.
1 mL de NaHCO3 8,4% = 1 mEq de HCO3-
Potássio < 3,3 mEq/L?
Não administrar KCl
Dosar K em 2 horas
K > 5,2 mEq/L?
NÃO INICIAR INSULINA!
Infundir 40 mEq de KCl a cada litro de fluído e adiar insulinoterapia até que
K > 3,3 mEq/L
Checar K a cada 1 hora
30 mL de KCl 10%/L ou 15 mL de KCl 19%/L
Infundir 20-30 mEq de KCl em cada litro de fluido até manter K entre 4-5 mEq/L.
Dosar K em duas horas
15 a 22 mL de KCl 10% em cada litro
ou
8 a 12 mL de KCl 19% em cada litro
Iniciar Insulina Regular
7 a 11 UI EV
Bólus opcional de 0,10 a 0,15 UI/kg EV
Insulina Regular 0,1 UI/kg/h EV em BIC
Glicemia capilar 1/1h
ou
70 mL/h em BIC
7 mL/h em BIC
ATENÇÃO
Conferir peso do paciente
Meta:
Reduzir a glicemia entre 50-75 mg/dL por hora
Glicemia reduziu menos de 50 mg/dL na primeira hora?
1 mL de KCl 10% = 1,34 mEq/mL de K
1 mL de KCl 19,1% = 2,56 mEq/mL de K
1. Identificação Rápida de Sintomas Clínicos
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Avaliar sinais e sintomas típicos da CAD:
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Náuseas, vômitos e dor abdominal;
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Respiração de Kussmaul (profunda e rápida);
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Hálito cetônico (odor adocicado característico);
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Sinais de desidratação (pele seca, hipotensão postural, taquicardia);
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Letargia ou confusão mental, podendo progredir para coma.
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2. Coleta Rápida de Dados Clínicos e História
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Confirmar diagnóstico prévio de diabetes ou investigar histórico de hiperglicemia;
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Verificar fatores precipitantes:
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Infecções (febre, tosse, disúria, etc.);
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Suspensão ou uso inadequado de insulina;
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Estresse metabólico (cirurgias, traumas, infarto do miocárdio);
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Uso de medicamentos hiperglicemiantes (corticosteroides, tiazidas).
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3. Solicitação de Exames Iniciais
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Glicemia capilar* (teste rápido para confirmar hiperglicemia);
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Gasometria arterial ou venosa** (para avaliação do pH, bicarbonato e Ânion GAP);
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Cetonúria* ou cetonemia** (confirmação de corpos cetônicos);
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Eletrólitos séricos**:
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Essenciais: sódio, potássio;
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Opcionais: cálcio, fósforo e magnésio;
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Osmolaridade plasmática; clique aqui para calcular;
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Função renal**: ureia, creatinina; clique aqui para calcular TFG;
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Hemograma completo** (para avaliar leucocitose, que pode indicar infecção);
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PCR e hemoculturas, se infecção for suspeita.
4. Estabelecimento de Diagnóstico
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Critérios diagnósticos para CAD:
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Glicemia > 250 mg/dL;
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pH arterial < 7,3 e bicarbonato < 18 mEq/L;
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Presença de cetonemia ou cetonúria;
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Anion gap aumentado (> 12 mEq/L).
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5. Manejo Inicial Imediato
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Hidratação:
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Iniciar reposição com NaCl 0,9% (1 L na primeira hora);
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Avaliar o status volêmico e ajustar a velocidade de infusão após a primeira hora (250-500 mL/h), baseando-se nos sinais de desidratação e função cardiovascular;
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6. Monitoramento Contínuo
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Glicemia capilar*: de hora em hora;
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Eletrólitos séricos** (especialmente potássio) e gasometria: a cada 2-4 horas;
7. Identificação e Tratamento da Causa Precipitante
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Investigar e tratar infecções (antibióticos se necessário);
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Ajustar a terapia com insulina após alta da crise;
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Orientar o paciente sobre a importância do manejo adequado do diabetes para evitar recorrências.
* Repetido a cada hora nas primeiras 4 horas e a cada 2 horas nas horas seguintes.
** Repetido a cada 2 horas nas primeiras 6 horas.
Glicemia reduziu mais de 75 mg/dL na primeira hora?
Reduzir a velocidade de infusão pela metade
Manter a velocidade de infusão
Quando glicemia < 200 mg/dL
Reduzir infusão da insulina para
0,02-0,05 UI/kg/h
ou
14 a 35 mL/h em BIC
2 a 4 mL/h em BIC
Cessar soro fisio e iniciar SG 5% para manter glicemia ente 150-200 mg/dL
Iniciar solução isotônica com SG 5%, ou seja, administrar 20 mL de NaCl 20% em 980 mL de SG 5%.
Infusão de 150-250 mL/h.
Paciente se alimentando e com critérios de controle metabólico?
Manter insulina EV e reposição de fluídos
Iniciar controle glicêmico com insulina SC
Manter insulina EV por 1 a 2 horas apos inicio da insulina SC, pois a interrupção abrupta pode resultar em recorrência de hiperglicemia.
Critérios utilizados para definir o controle laboratorial da CAD
Glicemia ≤ 200-250 mg/dL e pelo menos dois dos seguintes critérios:
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Bicarbonato sérico ≥ 15 mEq/L;
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pH ≥ 7,3;
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Ânion gap ≤ 12 mEq/L.
A Cetoacidose Diabética (CAD) é uma complicação metabólica aguda do diabetes mellitus, mais comum em pacientes com diabetes tipo 1, embora possa ocorrer também em pacientes com diabetes tipo 2 em situações de estresse metabólico. Essa condição caracteriza-se por três principais alterações metabólicas:
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Hiperglicemia (glicose > 250 mg/dL),
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Acidose metabólica (pH < 7,3 e bicarbonato < 18 mEq/L),
-
Cetose (acúmulo de corpos cetônicos no sangue e na urina).
Além disso, é essencial avaliar a presença de fatores precipitantes, como infecções, omissão de doses de insulina ou uso inadequado de medicamentos que podem descompensar o diabetes
Ela ocorre quando há uma deficiência significativa de insulina, que é o hormônio responsável por permitir que a glicose entre nas células e seja utilizada como fonte de energia. Em resposta a essa deficiência, o organismo ativa processos compensatórios que acabam desencadeando a cetoacidose.
Importância médica
É uma emergência médica e, se não tratada rapidamente, pode evoluir para complicações graves e fatais. A mortalidade da CAD geralmente é baixa em centros especializados, mas aumenta em pacientes mais jovens ou idosos, com comorbidades, ou quando o diagnóstico e o tratamento são atrasados. Complicações da CAD incluem:
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Edema Cerebral: Principalmente em crianças e adolescentes, sendo uma das complicações mais temidas, relacionada à rápida correção da hiperglicemia.
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Arritmias Cardíacas: Devido à desidratação e ao desequilíbrio eletrolítico, especialmente hipocalemia.
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Choque Hipovolêmico: Provocado pela desidratação severa e acidose.
O tratamento eficaz e rápido é fundamental para reduzir a morbidade e a mortalidade associadas à CAD.
O prognóstico da CAD é bom com o tratamento precoce e adequado, mas sua evolução depende da rapidez do diagnóstico e da gestão adequada dos fatores precipitantes, como infecções ou omissão de doses de insulina. O monitoramento constante é fundamental, especialmente para ajuste de insulina e reposição de eletrólitos conforme a resposta clínica do paciente.